No dia 31 de Outubro de 1912, no Porto, saiu dos prelos a revista A Vida Portuguesa. Propriedade da Renascença Portuguesa, sob a direcção de Jaime Cortesão, tinha como secretário da redacção e administrador Álvaro Pinto e, como editor, Costa Júnior.
A sociedade Renascença Portuguesa havia surgido alguns meses antes pela mão de Jaime Cortesão, Álvaro Pinto, Teixeira de Pascoaes e Leonardo Coimbra, nomes que, referencialmente, encontramos associados à primeira série da revista A Águia. A preocupação deste grupo, tal como foi definida pelo próprio Cortesão, tinha uma dimensão fundamentalmente social e política, procurando fornecer à revolução republicana algo de renovador e fecundo. Conforme é sugerido pelo próprio nome, tratava-se de uma reacção ou renascimento face a uma situação de decadência, uma espécie de recusa perante a forma como eram conduzidos múltiplos aspectos da vida portuguesa, com particular destaque a questão cultural, como é definido no artigo segundo dos seus estatutos: «A Sociedade, tem por fim promover a maior cultura do povo português, por meio da conferência, do manifesto, da revista, do livro, da biblioteca, da escola, etc.».
Com estas curtíssimas linhas pretendemos somente concretizar o convite para que, através do link http://purl.pt/284/3/ , seja visitada a digitalização desta fundamental publicação. Não cabendo aqui a pretensão de inventariar as suas principais linhas editoriais, chamamos todavia a atenção para alguns artigos estreitamente relacionados com o temário da educação, especialmente aqueles que se referem à criação da Universidades Populares.
Inspiradas sobretudo no modelo francês, as Universidades Populares pretendiam fornecer educação ao povo, nomeadamente a todos os que, por necessidade, haviam sido afastados da actividade intelectual e da experiência escolar, se bem que, como bem o atestam as palavras de Cortesão, o objectivo maior fosse, no essencial, a formação de um homem novo: «Temos de entender por Povo todos os portugueses a qualquer classe que pertençam, tenham estes frequentado seja que curso fôr e considerar esse Povo, todo o Portugal, como falho de educação» (A Vida Portuguesa, nº 3, p. 19).
A encerrar este convite, destacamos, em nota de curiosidade, que o próprio Jaime Cortesão, possivelmente com alguma amargura, haveria de lamentar que às sessões da Universidade Popular do Porto apenas afluísse um «público de certa cultura, que não faltaram além de estudantes, professores, médicos, advogados, militares, não falando já do público feminino, também largamente representado» e que as classes populares, melhor dizendo, o operariado, exceptuando apenas as lições de Cristiano Carvalho sobre a Comuna de Paris, pouco as frequentou («A Universidade Popular e o Operariado», in A Vida Portuguesa, nº 19, 1913, p. 145). Com efeito, seriam talvez aquelas as que mais estreitamente se aproximavam dos seus interesses: a questão social e a resolução dos seus problemas económicos.
Com os votos de boa e agradável leitura,
Jorge Gonçalves Guimarães
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